Texto 3
Papos
– Me disseram...
– Disseram-me.
– Hein?
– O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
– Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
– O quê? – Digo-te que você...
– O “te” e o “você” não combinam.
– Lhe digo?
– Também não. O que você ia me dizer?
– Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
– Partir-te a cara.
– Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
– É para o seu bem.
– Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...
– O quê?
– O mato.
– Que mato?
– Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
– Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
– Se você prefere falar errado...
– Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?
– No caso... não sei.
– Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
– Esquece.
– Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
– Depende.
– Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
– Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
– Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
– Por quê?
– Porque, com todo este papo, esqueci-lo.
Verissimo, Luis Fernando. Novas comédias da vida pública, a versão dos afogados. Porto Alegre: L&PM, 1997. [Adaptado].
Com base no texto 3 e na norma padrão escrita, analise as seguintes afirmativas e assinale a alternativa correta.
I. A sequência “Digo-te que você...” (linha 7) pode ser corrigida pela substituição do pronome ‘te’ pelo pronome ‘lhe’.
II. A sequência “Digo-te que você...” (linha 7) pode ser corrigida pela substituição do pronome ‘você’ pelo pronome ‘tu’.
III. Em “Me disseram” (linha 1), a forma pronominal deve ser marcada com caso reto, por corresponder ao sujeito da sentença.