Texto CB1A1-I
1 Como em todas as tardes abafadas de Americana,
no interior de São Paulo, o paranaense Adílson dos Anjos
circula entre velhas placas de computador, discos rígidos
4 quebrados, estabilizadores de energia enferrujados,
monitores com tubos queimados e outras velharias do
mundo da informática. Ao ar livre, as pilhas, que alcançam
7 um metro de altura, refletem os raios de sol de forma
difusa e provocam um incessante piscar de olhos. Por trás
delas, um corredor estreito, formado por antigos
10 decodificadores de televisão a cabo, se esconde sob uma
poeira fina que sobe do chão.
Com uma chave de fenda na mão direita, Adílson
13 mantém, de joelhos, uma linha de produção repetitiva.
Desparafusa as partes mais volumosas de uma CPU
carcomida, crava sua ferramenta em fendas
16 predeterminadas e, com os dedos da outra mão, faz
vergar parte do alumínio do aparelho. Com um
solavanco, arranca do corpo da máquina uma chapa fina
19 e esverdeada conhecida como placa-mãe. Com zelo,
deposita-a perto dos pés. O resto faz voar por cima de
sua cabeça: com um ruído estridente, tudo se espatifa
22 metros atrás.
Há cerca de um ano, Adílson vive com os cerca de
600 reais que ganha por mês coletando, separando e
25 evendendo sobras de computadores, que recebem o nome
de e-lixo. Todos os meses, ele transforma 20 toneladas de
sucata eletrônica em quilos e quilos de alumínio, ferro,
28 cobre, plástico e até mesmo ouro.
Não há dados no Brasil a respeito do número de
pessoas que vivem do mercado de sucata eletrônica, nem
31 do volume de dinheiro que ele movimenta. A falta de
dados e a consequente ausência de projetos voltados para o
bom aproveitamento dos detritos eletrônicos atestam que o
34 e-lixo brasileiro ainda se move pela sombra.
Na Europa e nos Estados Unidos, estudos sobre
o assunto atestam que o montante de lixo digital em
37 circulação na Terra cresce 5% ao ano. A sucata
eletrônica, sozinha, já abocanha uma fatia maior do que
a das fraldas infantis no bolo de resíduos sólidos gerados
40 pelo ser humano.
Cristina Tardáguila. Ruínas eletrônicas. Internet