Texto associado. TEXTO A
“Cada homem é uma raça.” A frase, título de um livro do escritor moçambicano Mia Couto, sintetiza a ideia de que cada indivíduo tem sua história, seu repertório cultural, seus desejos, suas preferências pessoais e, é claro, uma aparência física própria que, no conjunto, fazem dele um ser único. Rótulos raciais são, portanto, arbitrários e injustos. Mia Couto, com sua concepção universalista da humanidade, é citado algumas vezes em Uma Gota de Sangue - História do Pensamento Racial (Contexto; 400 páginas; 49,90 reais), do sociólogo paulistano Demétrio Magnoli, recém-chegado às livrarias. Trata-se de uma dessas obras ambiciosas, raras no Brasil, que partem de um esforço de pesquisa histórica monumental para elucidar um tema da atualidade. Magnoli estava intrigado com o avanço das cotas para negros no Brasil e resolveu investigar a raiz dessas medidas afirmativas. O resultado é uma análise meticulosa da evolução do conceito racial no mundo. Descobre-se em Uma Gota de Sangue que as atuais políticas de cotas derivam dos mesmos pressupostos clássicos sobre raça que embasaram, num passado não tão distante, a segregação oficial de negros e outros grupos. A diferença é que, agora, esse velho pensamento assume o nome de multiculturalismo - a ideia de que uma nação é uma colcha de retalhos de etnias que formam um conjunto, mas não se misturam. É o racismo com nova pele.
Em todos os povos ou períodos da história, a sensação de pertencimento a uma comunidade sempre foi construída com base nas diferenças em relação aos que estão de fora, “os outros”.
Diogo Schelp IN: Revista Veja, 2 set 2009.
Depreende-se da leitura do texto que:
a) a investigação do sociólogo Magnoli pretende oferecer uma visão antagônica às concepções de Mia Couto, em Uma Gota de Sangue - História do Pensamento Racial, conforme a informação apresentada pelo articulista da revista Veja.
b) o entendimento do princípio da igualdade entre as pessoas é a tese argumentativa do autor da matéria da revista Veja, que utiliza, como procedimento retórico, referências, como meios de prova em favor de sua tese.
c) a ideia do escritor moçambicano legitima a tese do jornalista da Veja, favorável a um etnocentrismo firmado nos mesmos pressupostos clássicos que privilegiaram uma divisão sistemática de raças, dando, assim, condições de dignidade a cada ser humano.
d) a reportagem da Veja, por meio de seu locutor, introduz no seu discurso opiniões diversas, todas destoantes entre si, para que se sobreponham argumentos independentes e contestadores a respeito do assunto temático.
e) a argumentatividade do autor da reportagem da Veja é carregada de neutralidade, evitando, assim, qualquer tipo de persuasão interferente na liberdade de entendimento do leitor.