Arrancar a máscara
“Arrancar a máscara” é evidenciar a verdadeira face, revelando a expressão legítima, oculta pelo disfarce. Tornar público o escondido.
Na Grécia e em Roma, os atores representavam sempre mascarados. A máscara denunciava o caráter do personagem em cena. Não se via o rosto do artista que vivia o papel humorístico ou trágico. A máscara, impassível, valia permanentemente pela figura. Quando o ator trabalhava mal, irritando os espectadores pelo desempenho inferior e falso, a assistência, grega ou romana, podia exigir que ele tirasse a máscara do rosto, exibindo-se, para que recebesse diretamente a demonstração do desagrado coletivo. Se algum ator era obrigado a arrancar a máscara, subentendia-se a infelicidade da interpretação artística. Estava, pelo menos naquela ocasião,
repelido das simpatias e dos aplausos.
Identificava-se, portanto, o responsável pelo fracasso na legitimidade das feições. Já desapareceu, há duzentos anos, o uso da máscara nos palcos, mas a frase “Arrancar a máscara”, nascida de um milenar direito do auditório, continua sendo aplicada a situações inteiramente alheias ao teatro.
É uma das contemporaneidades do milênio.
Luís da Câmara Cascudo. Coisas que o povo diz.
São Paulo: Global, 2009, p. 34 (com adaptações).