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Questão 860504: Assinale a opção correta quanto à predicação atribuída...

Assinale a opção correta quanto à predicação atribuída ao verbo sublinhado na passagem do texto:



Texto associado.

(Unirio) TERRA

“Tudo tão pobre. Tudo tão longe do conforto e da civilização, da boa cidade com as suas pompas e as suas obras. Aqui, a gente tem apenas o mínimo e até esse mínimo é chorado.

Nem paisagem tem, no sentido tradicional de paisagem. Agora, por exemplo, fins d’águas e começos de agosto, o mato já está todo zarolho. E o que não é zarolho é porque já secou. Folha que resta é vermelha, caíram as últimas flores das catingueiras e dos paus-d’arco, e não haveria mais flor nenhuma não fossem as campânulas das salsas, roxas e rasteiras.

No horizonte largo tudo vai ficando entre sépia e cinza, salvo as manchas verdes, aqui e além, dos velhos juazeiros ou das novatas algarobas. E os serrotes de pedra quando o sol bate neles de chapa, tira faíscas de arco-íris. E a água, a própria água, não dá impressão de fresca: nos pratos-d’água espelhantes ela tem reflexos de aço, que dói nos olhos.

A casa fica num alto lavado de ventos. Casa tão rústica, austera como um convento pobre, as paredes caiadas, os ladrilhos vermelhos, o soalho areado. As instalações rudimentares, a lenha a queimar o fogão, a água de beber a refrescar nos potes. O encanamento novo é um anacronismo, a geladeira entre os móveis primitivos de camaru parece sentir-se mal.

Não tem jardim: as zínias e os manjericões que levantavam um muro colorido ao pé dos estacotes, estão ressequidos como ramos bentos guardados num baú. Também não tem pomar, fora os coqueiros e as bananeiras do baixo.

Não tem nada dos encantos tradicionais do campo, como os conhecimentos pelo mundo além. Nem sebes floridas, nem regatos arrulhantes, nem sombrios frescos do bosque – só se a gente der para chamar a caatinga de bosque.

Não, aqui não há por onde tentar a velha comparação, a clássica comparação dos encantos do campo aos encantos da cidade. Aqui não há encantos. Pode-se afirmar com segurança que isto por aqui não chega sequer a ser campo. É apenas sertão e caatinga. As delgadas, escuras cercas de pau-a-pique cavalgando as lombadas, o horizonte redondo e desnudo, o vento nordeste varrendo os ariscos.

Comparo este mistério do Nordeste ao mistério de Israel. Aquela terra árida, aquelas águas mornas, aqueles pedregulhos, aqueles cardos, aquelas oliveiras de parca folhagem empoeirada – por que tanta luta por ela, milênios de amor, de guerra e saudade?

Por que tanto suor e carinho no cultivo daquele chão que aparentemente só dá pedra, espinho e garrancho?

Não sei. Mistério é assim: está aí e ninguém sabe. Talvez a gente se sinta mais puros, mais nus, mais lavados. E depois a gente sonha. Naquele cabeço limpo vou plantar uma árvore enorme. Naquelas duas ombreiras a cavaleiro da grota dá para fazer um açudinho. No pé da parede caberão uns coqueiros e no choro da revência, quem sabe, há de dar umas leiras de melancia em novembro.

Aqui tudo é diferente. Você vê falar em ovelhas – e evoca prados relvosos, os brancos carneirinhos redondos de lã. Mas as nossas ovelhas se confundem com as cabras e têm o pêlo vermelho e curto de cachorro-do-mato; verdade que os cordeirinhos são lindos.

Sim, só comparo o Nordeste à Terra Santa. Homens magros, tostados, ascéticos. A carne de bode, o queijo duro, a fruta de lavra seca, o grão cozido n’água e sal. Um poço, uma lagoa é como um sol líquido, em torno do qual gravitam as plantas, os homens e os bichos. Pequenas ilhas d’água cercadas de terra por todos os lados e em redor dessas ilhas a vida se concentra.

O mais é paz, o sol, o mormaço.”

Raquel de Queirós

Assinale a opção correta quanto à predicação atribuída ao verbo sublinhado na passagem do texto:

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