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Questão 684458: O RACISMO DA ACADEM...

O RACISMO DA ACADEMIA APAGOU A HISTÓRIA DE DANDARA E LUISA MAHINA escravidão interrompeu a história da África e de seus descendentes, rouband...



O RACISMO DA ACADEMIA APAGOU A HISTÓRIA DE DANDARA E LUISA MAHIN
A escravidão interrompeu a história da África e de seus descendentes, roubando séculos de
produção intelectual em troca de trabalho forçado. O Brasil só aboliu a escravidão há menos de 131
anos e é natural ver alguns nomes de heróis afro-brasileiros sendo reconhecidos cada vez mais no
Panteão da Pátria, um memorial cívico inaugurado em 1986 para homenagear personalidades
brasileiras.
No “Livro dos heróis e heroínas da pátria”, já constam nomes como Luís Gama, Anita
Garibaldi, Zumbi dos Palmares e Heitor Villa-Lobos. Recentemente, o Senado aprovou a inclusão de
duas lideranças negras: Dandara, líder quilombola que articulava as estratégias de Palmares ao lado
do marido, Zumbi, e Luisa Mahin, considerada uma das maiores lideranças negras contra a
escravidão na Bahia do século 19, mãe do abolicionista Luís Gama. Ambas são símbolos da luta
feminina contra a escravidão.
Assim como a maior parte dos personagens negros, o nome dessas duas guerreiras é envolto
em polêmica. Historiadores desconectados da realidade negra questionam as fontes que comprovam
a existência dessas mulheres porque só há relatos esparsos das suas vidas. Ambas acabaram alvos
do desinteresse de historiadores da época, e ainda hoje existe uma dificuldade imensa em recuperar
suas biografias por não haver um esforço em catalogar e analisar a tradição oral como fonte
historiográfica. A maior parte da vida de Dandara, por exemplo, sobreviveu na forma de lendas,
segundo a Fundação Palmares. Não há registros do local onde nasceu, tampouco da sua
ascendência africana, tampouco sobraram evidências físicas sobre a Dandara após o ataque a
Palmares.
A mãe de Luís Gama é tratada da mesma maneira pela história. Não existem registros oficiais
de suas participações nos levantes baianos. O primeiro documento que descreve Luisa é uma carta
de seu filho Luís Gama. Segundo a historiadora Ligia Fonseca Ferreira, “a riqueza de detalhes e o
testemunho pessoal atribuem veracidade à narração de Gama, ampliando as possibilidades de
aceitação da personagem”. Luisa pertencia à nação nagô-jeje, originária do Golfo do Benin. Era do
povo Mahin, daí seu sobrenome. Ela sempre negou o batismo e manteve suas tradições africanas
acima das doutrinas cristãs. Sua casa teria sido o quartel general da Revolta dos Malês em 1835.
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A falta desses registros em papel, que nunca seriam obtidos de modo fácil ou que sequer
existam, gera um questionamento que, a meu ver, é a face de um preconceito secular na
historiografia, tema abordado por Joseph Ki-Zerbo, um dos mais respeitados historiadores africanos.
Segundo Ki-Zerbo, os estereótipos raciais criadores de desprezo estão tão profundamente
consolidados que corromperam inclusive os próprios conceitos da historiografia.
A inscrição dessas duas mulheres no Panteão da Pátria não é apenas um reconhecimento das
figuras históricas, mas significa uma pequena ruptura na historiografia com viés colonial, um passo
em direção à valorização da tradição negra brasileira como uma entidade histórica. Isso contribui para
a construção e o fortalecimento da consciência étnica do povo afro-brasileiro. Sem isso, negros e
indígenas seguirão à mercê da visão de quem os manteve cativos, exatamente como diz um famoso
ditado africano: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caça seguirão
glorificando o caçador.”
 O racismo atribuído à academia justifica-se, no texto, pelo fato de
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