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Questão 192063: A palavra " imaturas" é formada por

A palavra " imaturas" é formada por



Texto associado.

Para responder às questões de 1 a 4, leia a crônica abaixo.

Somos todos vítimas

Ivan Angelo

Num domingo frio de início do inverno, a população de São

Paulo ficou chocada com uma cena jamais vista na cidade. A

capa do jornal Estadinho trazia uma fotografia que ocupava toda

a largura da página e mostrava uma família de seis pessoas,

homem, mulher e quatro crianças, louros, de olhos azuis,

morando sob o Viaduto do Chá, sem ter o que comer, com

apenas a roupa do corpo e uma cuia de chimarrão que o homem

tomava. O assunto dominou as conversas naquele 2 de junho

de 1918 e invadiu a semana. Como era possível tal cena na

metrópole que mais crescia no país? Que gente era aquela? O

homem, argentino, trabalhara na grande fazenda de café do

milionário Martinho Prado, havia contraído maleita, fora despedido

e depositado com a família na capital, entregue à própria má

sorte.

Noventa e cinco anos depois, as cenas mais vistas na cidade

são de famílias dormindo na rua, sem ter o que comer, sem

roupas e sem chimarrão, e de bandos de miseráveis drogados.

No passado, vimos chocados um caso inédito; hoje, olhamos

com anestesia da indiferença para a malta de zumbis e grupos

de desvalidos, quando não os vemos com silenciosa revolta ou

cauteloso receio. Como deixaram nossa cidade chegar a esse

ponto? Como não fomos capazes de impedir esse horror quando

era possível?

Foram vindo. Das injustiças sociais vieram, dos fracassos

pessoais, das famílias desestruturadas, das fugas, das

frustrações, das secas nordestinas e amorosas vieram, do

abandono, das fragilidades e inseguranças, das revoltas sem

rumo vieram, do alcoolismo, dos pais ausentes, da escola

ausente, das bravatas imaturas, dos reformatórios vieram, dos

abusos, dos maus-tratos, dos baratos, das baladas, da má

educação, das carências, da falta de lugar, da doença mental

vieram, da baixa estima, das prisões, do risco mal calculado,

dos refúgios da alma vieram... e formaram essas multidões

que nos assustam.

Há alguns anos (dez?) dizia-se: é a Cracolândia, estão restritos

à Cracolândia. Aquela água envenenada começou a vazar: Luz,

Sé, Brás, Bom Retiro, Centro, Parque Dom Pedro, Cambuci,

Mooca, Tatuapé, Campos Elíseos, Santa Cecília, Higienópolis,

Avenida Paulista, baixos dos viadutos Rebouças e Doutor

Arnaldo. Os moradores de Perdizes veem, consternados, que

os caídos já amanhecem dormindo na porta dos seus prédios

e casas. As ações espasmódicas das autoridades o que fizeram

foi espalhá-los pela cidade.

Que fazer?

Pobres de nós, perplexos. Brotam sentimentos xenófobos até

nos melhores. São um risco para a saúde pública, dizem,

disseminam doenças, aids, hepatites, tuberculose, sarna,

micoses. Perguntam o que é pior para o conceito de cidade

limpa: uma placa irregular, que vai gerar propina, ou um

maltrapilho defecando e urinando na rua? Se alguém bem vestido

fizer isso,será levado para a delegacia, enquadrado em algum

ato de atentado ao pudor.

Esses bandos de crianças e adolescentes que perambulam

pelas ruas praticando furtos e fumando crack são as peças de

reposição da malta de zumbis, advertem. Perguntam, punitivos:

são infratores, malfeitores, criminosos ou o quê? Em que lei se

enquadram? É enquadrá-los e agir. Afirmam: estão sendo

exportados para São Paulo, as autoridades devem mandá-los

de volta, cuidar dos nossos e mandar o resto de volta.

Estamos precisados de tanta coisa para nos tornar melhores e

vem essa coisa a nos empurrar para o lado mais escuro de nós.

Precisamos nos lembrar de que há uma mãe procurando seu

menino desaparecido no meio daqueles bandos, para oferecerlhe

um banho quente entre uma queda e outra; há uma irmã

que guardou a boneca da caçula para quando a encontrar; há

uma filha tentando salvar o pai já idoso e perdido; há uma esposa

com filho à procura do marido, ainda com esperança... Há

histórias... Há lágrimas... Há vítimas dos dois lados.

A palavra " imaturas" é formada por

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