“O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. E não é verossímil que todos se enganem a tal respeito; mas isso antes testemunha que o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina o bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens; e, destarte, que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele se distanciam”.
(l. Descartes, Discurso do método. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009).
Neste trecho, o filósofo Renée Descartes quer provar que
a) o homem de bom senso é aquele que deseja ter maior capacidade de julgar do que aquela que já tem.
b) já que o bom senso é compartilhado por todos, o importante é ter um método para saber aplicar bem o conhecimento.
c) já que as maiores almas são capazes dos maiores vícios, não importa saber utilizar a razão, mas possuir a virtude.
d) dada a igualdade natural dos homens, qualquer um pode alcançar a sabedoria por qualquer caminho.
e) os homens em geral se enganam a respeito do próprio poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso.