Quem educa: A escola ou a Família?
É neste momento em que os profissionais da educação se deparam com questionamentos diante de sua formação e atuação, e quando começam as dúvidas sobre qual o papel de cada agente: escola e família.
De tempos em tempos ressurgem questionamentos sobre qual o verdadeiro papel da escola na sociedade, especialmente diante da educação das crianças e adolescentes.
Isso decorre do fato de que muitas vezes é delegada à escola o papel de ensinar condutas morais e éticas básicas, e que supostamente seriam função da família.
Para compreender a questão é necessário retornar ao próprio conceito de “Educação”. Ela é entendida como um processo contínuo de instrução, aprendizagem, construção do conhecimento.
A educação está ligada ao ato de aprender e ensinar. Para os vários estudiosos da área da educação, o conceito assume preceitos e explicações conforme seu viés metodológico e conceitual.
Para uma das mais importantes leis educacionais do Brasil, que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB), “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (art.01).
Seguindo esta lógica, a educação não abrange apenas os conteúdos formais ou curriculares, mas toda aprendizagem que possui um significado na vida no aluno.
A educação, nesta vertente, se constrói em todos os espaços da sociedade e depende de vários agentes.
A escola espera que o aluno tenha na família os primeiros conhecimentos sobre o mundo, sobre as dinâmicas sociais, senso de moralidade e ético, bons modos, princípios de tradição, religiosos e culturais.
Com isso, seria papel da escola a socialização dos conteúdos curriculares, produção de vivências relacionadas com as novas aprendizagens e um fortalecimento da base já constituída no âmbito familiar.
Sabe-se, porém, que essa é uma visão utópica, pelo menos por ora. Muitos alunos chegam à escola sem muitas noções básicas de comportamento social, como limites, respeito, hábitos de higiene e alimentares.
É neste momento em que os profissionais da educação se deparam com questionamentos diante de sua formação e atuação, e quando começam as dúvidas sobre qual o papel de cada agente: escola e família.
Separar de forma clara os papeis da escola e da família no desenvolvimento da criança ou do adolescente não é uma tarefa das mais simples, justamente porque muitos problemas sociais que afetam a vida dos alunos são estruturais, e que se prolongam ao longo dos anos, afetando até gerações.
A legislação educacional atribui a educação à vários agentes sociais: escola, família, comunidade, instituições, Estado.
As funções de cada um neste processo nem sempre são bem definidas, o que gera críticas e questionamentos. Neste processo de delegar atribuições, por vezes é o aluno o mais prejudicado.
A educação de uma criança ou adolescente é um processo complexo. Envolve várias pessoas, experiências, comprometimento, exigências. Tanto a escola, quanto a família, tem um papel fundamental na formação da personalidade e construção dos conhecimentos do estudante.
Diante de um cenário de imprecisão dos papeis, cabe a todos a preocupação com o desenvolvimento deste aluno, já que ele é o ponto mais frágil da discussão.
A família educa quando estabelece limites e estipula regras; quando cria bons hábitos alimentares e de higiene; quando dialoga sobre o corpo do “eu” e do “outro”; bem como quando aceita e incentiva a inclusão, o respeito pelas diferenças, quando estimula a sociabilidade sadia.
Todas essas coisas certamente são papel da família, mas que precisam ser reforçadas durante toda vida escolar do estudante e ainda na vida adulta.
A escola educa quando permite que o aluno se depare com situações da vida real; conflitos no contato com o outro; quando estimula o diálogo, a negociação e aceitação em perder às vezes.
A escola educa quando o aluno percebe que os valores construídos em sua casa são defrontados com valores diferentes dos colegas, e é preciso respeito. São múltiplas as situações em que a educação é desenvolvida na escola, concomitantemente ao ensino dos conteúdos formais curriculares.
Assim, não se pode afirmar que a educação de uma criança ou adolescente seja papel exclusivo da escola ou da família. Cada qual tem suas próprias funções e juntas elas promovem o permanente desenvolvimento do estudante.
Quando a escola e a família assumem de forma conjunta a responsabilidade sobre a criança ou adolescente, certamente bons frutos poderão ser colhidos.